2 de dezembro de 2010

Os antigos

"Os antigos invocavam as Musas.
Nós invocamo-nos a nós mesmos.
Não sei se as Musas apareciam —
Seria sem dúvida conforme o invocado e a invocação. —
Mas sei que nós não aparecemos.
Quantas vezes me tenho debruçado
Sobre o poço que me suponho
E balido «Ah!» para ouvir um eco,
E não tenho ouvido mais que o visto —
O vago alvor escuro com que a água resplandece
Lá na inutilidade do fundo...
Nenhum eco para mim...
Só vagamente uma cara,
Que deve ser a minha, por não poder ser de outro.
É uma coisa quase invisível,
Excepto como luminosamente vejo
Lá no fundo...
No silêncio e na luz falsa do fundo...

Que Musa!........."

Álvaro de Campos, 3/1//1935

4 comentários:

Unknown disse...

A desgraça é uma musa !

Beijinho e bom fim de semana

Manuela Freitas disse...

Olá Benjamina,
Não me lembrava mesmo nada desta poesia do Álvaro de Campos, que como sempre é desconcertante!...
Beijos,
Manuela

Benjamina disse...

Manuel
É sim... para muitos artistas a tristeza, a decepção e a desgraça são as únicas fontes de inspiração..

Benjamina disse...

Manuela

Também eu não me lembrava... quando folheei o livro. E tem razão, é muito desconcertante mesmo.
Beijos