"Os antigos invocavam as Musas.
Nós invocamo-nos a nós mesmos.
Não sei se as Musas apareciam —
Seria sem dúvida conforme o invocado e a invocação. —
Mas sei que nós não aparecemos.
Quantas vezes me tenho debruçado
Sobre o poço que me suponho
E balido «Ah!» para ouvir um eco,
E não tenho ouvido mais que o visto —
O vago alvor escuro com que a água resplandece
Lá na inutilidade do fundo...
Nenhum eco para mim...
Só vagamente uma cara,
Que deve ser a minha, por não poder ser de outro.
É uma coisa quase invisível,
Excepto como luminosamente vejo
Lá no fundo...
No silêncio e na luz falsa do fundo...
Que Musa!........."
Álvaro de Campos, 3/1//1935
4 comentários:
A desgraça é uma musa !
Beijinho e bom fim de semana
Olá Benjamina,
Não me lembrava mesmo nada desta poesia do Álvaro de Campos, que como sempre é desconcertante!...
Beijos,
Manuela
Manuel
É sim... para muitos artistas a tristeza, a decepção e a desgraça são as únicas fontes de inspiração..
Manuela
Também eu não me lembrava... quando folheei o livro. E tem razão, é muito desconcertante mesmo.
Beijos
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