8 de abril de 2011

Íssimo cansaço...

Edvard Munch, Night in Saint Cloud

"O que há em mim é sobretudo cansaço -
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossìvelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço..."

Álvaro de Campos



Música: Evanescence, Listen to the Rain

2 comentários:

Teresa Santos disse...

Benjamina,

Uma combinação perfeita: o poema de Álvaro de Campos e a música.
Fernando Pessoa, eterno.
Beijinho.

Eduardo Miguel Pereira disse...

Nem vale a pena dizer-lhe o quanto aprecio Pessoa, certo ?

Passo também para deixar desejos de boa Páscoa e um beijinho.