5 de junho de 2010

Hoje olho-te, mar

"Os meus passos de criança não deixavam pegadas,
a tua mão de areia e espuma
atraía-me para o teu seio
e eu partia numa braçada confiante
em direcção ao azul dos gritos das gaivotas,
esse azul reluzente ao nível dos olhos
que me chamava sempre mais longe
em busca da vaga que seria enfim minha.
Hoje olho-te, mar,
e lembro-me das lágrimas vertidas,
do sal amargo do regresso,
da tua cor cambiante
que me traz o esquecimento
e eu permaneço lá, apaziguada e feliz,
a olhar a maré do presente
que já não é para mim o chamamento
da tua mortal imensidão."

Isabel Meyrelles, Maio 1997, em "Isabel Meyrelles, Poesia" , Quasi Edições, 2004

4 comentários:

Ana Paula Fitas disse...

Que belo poema, Benjamina!
Obrigado pela partilha.
Um beijinho.

Miguel Gomes Coelho disse...

Benjamina,
Muito belo.
Não conhecia a autora mas vou tratar de conhecer.
Obrigado e o abraço de sempre.

Teresa Santos disse...

A Isabel Meyrelles nunca deixa de nos enternecer. A sua poesia - por vezes "pesada" em consequência do seu percurso de vida - é sempre bonita.
Abraço.

Benjamina disse...

Olá Ana Paula, Miguel e Teresa

A Isabel Meyrelles tem poemas lindos. Não serão muito vasta a sua obra poética (é mais dedicada à escultura) mas eu gosto.

Acho que não saberia da sua existência se não visitasse a Fundação Cupertino de Miranda, em Famalicão, que se dedica ao surrealismo.

E é uma pena que a editora Quasi, também de Famalicão tenha acabado, porque editava excelentes livros. O seu fundador, Jorge-Reis Sá, lá emigrou para a capital...

Um abraço e obrigada