"Penso às vezes, com um deleite triste, que se um dia, num futuro a que eu já não pertença, estas frases, que escrevo, durarem com louvor, eu terei enfim a gente que me «compreenda», os meus, a família verdadeira para nela nascer e ser amado. Mas, longe de eu nela ir nascer, eu terei já morrido há muito. Serei compreendido só em éfígie, quando a afeição já não compense a quem morreu a só desafeição que houve, quando vivo.
Um dia talvez compreendam que cumpri, como nenhum outro, o meu dever-nato de intérprete de uma parte do nosso século; e, quando o compreendam, hão-de escrever que na minha época fui incompreendido, que infelizmente vivi entre desafeições e friezas, e que é pena que tal me acontecesse. E o que escrever isto será, na época em que o escrever, incompreendedor, como os que me cercam, do meu análogo daquele tempo futuro. Porque os homens só aprendem para uso dos seus bisavós, que já morreram. Só aos mortos sabemos ensinar as verdadeiras regras de viver. "
Um dia talvez compreendam que cumpri, como nenhum outro, o meu dever-nato de intérprete de uma parte do nosso século; e, quando o compreendam, hão-de escrever que na minha época fui incompreendido, que infelizmente vivi entre desafeições e friezas, e que é pena que tal me acontecesse. E o que escrever isto será, na época em que o escrever, incompreendedor, como os que me cercam, do meu análogo daquele tempo futuro. Porque os homens só aprendem para uso dos seus bisavós, que já morreram. Só aos mortos sabemos ensinar as verdadeiras regras de viver. "
Fernando Pessoa, 1933, em "O Livro do Desassossego"
7 comentários:
Ser grande significa ser incompreendido ...
Beijo.
Sem querer parafrasear o manuel marques, considero que ser grande significa ser Eterno. E, o nosso Fernando Pessoa é, de facto, Eterno.
Abraço, Benjamina.
Só Fernando entende a gente que nasceu sem nenhum sossego, como me encontro nele...como me encontro nele e me encontrei por aqui.
abraços
Cris
A sua genialidade artística só encontrava paralelo na forma clara, objectiva e realista como observava e compreendia o mundo, e o Homem. Mistura verdadeiramente explosiva, que o empurrou para uma vida de desassossego.
Há poetas que vivem num mundo aparte, e vivem bem nessa mundo de "loucura", não era o caso de Pessoa, que entendia como poucos tudo o que o rodeava.
Olá Manuel, Teresa, Cris e Eduardo
Acho que todos tem razão. Foi muito incompreendido no seu tempo, mas ainda hoje, muito do que disse está para além da compreensão da maioria. De uma lucidez assustadora.
Obrigada e um bom fim de semana
Olá Benjamina,
Penso que quem está muito acima de tudo e de todos, sofre de grande incompreensão, mas está no caminho do excepcional e, de facto se ainda não há uma total compreensão sobre a sua grandeza, ele sobressai e de que maneira, na literatura internacional.
Beijinhos,
manuela
Manuela
Acabei de comentar no blogue da Josefa: ainda bem que sou bem mais pequena que o nosso grande Pessoa, e assim conservo a alegria de viver e a inocência de apreciar a natureza, as paisagens, as pessoas boas.
A genialidade tem um preço normalmente muito alto. Em Pessoa, o preço era a ausência de compreensão, de alegria e de felicidade.
Beijinhos
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