"A visão de ti seria o leito onde a minha alma adormecesse, criança doente, para sonhar outra vez com outro céu. Falares? Sim, mas que ouvir-te fosse não te ouvir mas ver grandes pontes ao luar ligar as duas margens escuras do rio que vai ter ao ancião mar onde as caravelas são nossas para sempre.
Sorris? Eu não sabia disso, mas nos meus céus interiores andavam as estrelas. Chamas-me dormindo. Eu não reparava nisso mas no barco longínquo cuja vela de sonho ia sob o luar, vejo longínquas marinhas."
Sorris? Eu não sabia disso, mas nos meus céus interiores andavam as estrelas. Chamas-me dormindo. Eu não reparava nisso mas no barco longínquo cuja vela de sonho ia sob o luar, vejo longínquas marinhas."
Bernardo Soares / Fernando Pessoa, em "Livro do Desassossego" (imagem da net)
5 comentários:
Bejamina,
magnífica prosa poética. Lindíssimo.
Muito bem escolhido.
Um abraço.
Muitas vezes a distração e o ruído do quotidiano levam a que não reparemos em coisas simples, tão prosaicas mas que são verdadeiros bâlsamos para a alma!
Benjamina, da mesma maneira que na Escola se ensina a ler "Os Lusiadas" ou os "Maias", já ia sendo tempo de ensinar as novas gerações a ler "Livro do Desassossego".
Um povo que aprendesse a ler prosa poética, seria seguramente, um povo melhor preparado intelectualmente e civicamente.
Ficou lindíssima, a conjugação desta excelente prosa com a bela imagem de uma caravela ao luar.
Um abraço, Benjamina!
Miguel, Quintino, Eduardo e Ana Paula
Vou lendo aos poucos e erraticamente o Livro do Desassossego. Achei lindíssima esta passagem, uma prosa que é mesmo poesia, como dizem!
Eduardo, sinceramente não sei se os nossos jovens estariam preparados para este livro, mas talvez tenha razão, não sei mesmo.
Ana Paula encontrei esta imagem que parece feita para o texto, de facto :)
Obrigada e um abraço
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