Magnete
metal
ausente
existente
baralha
confunde
bússola
demente
Perdida
a sul
nascente
e poente
tamanho
desnorte
em mim
presente
À deriva
sem rumo
perdida no mar
leva-me corrente
para algum lugar
onde o sol não queime
e haja luar
31 de julho de 2009
21 de julho de 2009
Voodoo Girl
20 de julho de 2009
Avó
"Tu estavas, avó, sentada na soleira da tua porta, aberta para a noite estrelada e imensa, para o céu de que nada sabias e por onde nunca viajarias, para o silêncio dos campos e das árvores assombradas, e disseste, com a serenidade dos teus noventa anos e o fogo de uma adolescência nunca perdida: "O mundo é tão bonito e eu tenho tanta pena de morrer." Assim mesmo. Eu estava lá."
José Saramago, em "As Pequenas Memórias"
José Saramago, em "As Pequenas Memórias"
19 de julho de 2009
Houvesse muitos assim
Na revista Única incluída no semanário Expresso, de ontem, a rubrica Perfil apresenta um artigo intitulado "A torto e a direito" sobre o bastonário da ordem dos advogados, Marinho Pinto. Algumas das suas frases, são um testemunho da sua lucidez na análise da realidade deste Portugal:
- "A distribuição da riqueza é mal feita e acentuou desigualdades que lembram alguns dos piores momentos da nossa História. Os partidos políticos deixaram de ter um papel de moderação e mobilização e funcionam mais como sindicatos ou aparelhos que lutam por votos para receber os subsídios do Estado, o que descredibiliza o discurso político e as instituições democráticas."
- "Vive-se na espuma mediática criada pelos próprios jornalistas, que já não orientam a sua actividade por critérios de natureza ética e deontológica."
- "A aplicação mecânica da lei leva às piores injustiças. A lei é apenas uma de várias fontes de Direito". "Quando escolhi ser advogado, estava cheio de ilusões e ideais sobre a justiça. Perdi todas as ilusões, mas nenhum dos ideais."
Muito se fala, muito se diz, muito se ataca Marinho Pinto. É certo que ele dispara para muitos lados. Mas não a torto e a direito. À parte generalizações, bem sabemos que há muito de podre no funcionamento das instituições neste país.
Por isso, não tenho como não gostar e não aplaudir a coragem de Marinho Pinto .
- "A distribuição da riqueza é mal feita e acentuou desigualdades que lembram alguns dos piores momentos da nossa História. Os partidos políticos deixaram de ter um papel de moderação e mobilização e funcionam mais como sindicatos ou aparelhos que lutam por votos para receber os subsídios do Estado, o que descredibiliza o discurso político e as instituições democráticas."
- "Vive-se na espuma mediática criada pelos próprios jornalistas, que já não orientam a sua actividade por critérios de natureza ética e deontológica."
- "A aplicação mecânica da lei leva às piores injustiças. A lei é apenas uma de várias fontes de Direito". "Quando escolhi ser advogado, estava cheio de ilusões e ideais sobre a justiça. Perdi todas as ilusões, mas nenhum dos ideais."
Muito se fala, muito se diz, muito se ataca Marinho Pinto. É certo que ele dispara para muitos lados. Mas não a torto e a direito. À parte generalizações, bem sabemos que há muito de podre no funcionamento das instituições neste país.
Por isso, não tenho como não gostar e não aplaudir a coragem de Marinho Pinto .
Tradições inaceitáveis
18 de julho de 2009
Amostra sem valor
"Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:
com ele se entretém
e se julga intangível.
Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.
Eu sei que as dimensões impiedosas da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo."
António Gedeão
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:
com ele se entretém
e se julga intangível.
Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.
Eu sei que as dimensões impiedosas da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo."
António Gedeão
17 de julho de 2009
16 de julho de 2009
Boas pessoas
Gostaria de ser boa pessoa. Não sei se o sou, talvez não o seja. Mas nem sei definir o que é uma boa pessoa. Nem tão pouco sei dizer o que é uma má pessoa.
De que matéria são feitas as boas pessoas? Terão elas mais "razão" ou "sentimento" que as que o não são? O que as identifica? Ser boa pessoa não implica ser perfeito. Mas ser má pessoa implica de certeza ser muito imperfeito. Onde está a linha divisória? Difícil separação. As cores branco e negro misturam-se em diversas gradações de cinzentos. E depois, há as cores à mistura. Desta complexidade cromática, será que não se pode distinguir o claro do escuro?
Primariamente, move-nos o egoísmo, o impulso de satisfazer os nossos desejos e ambições. De sobressairmos, de sermos mais e melhor que os outros. Procura-se a felicidade no poder e no dinheiro, que se acha ser a fonte da satisfação dos desejos.
Alguns põe estes objectivos à frente de tudo e sobretudo à frente daqueles que se lhes deparam no caminho. Simulam. Mentem. Prejudicam. Corrompem-se.
Não, estes decerto não podem ser boas pessoas. Pelo menos enquanto pensarem que têm mais direitos que os outros. Enquanto não souberem que a felicidade maior vem de partilhar, e mais do dar que receber.
Depois, vem a nossa capacidade de olhar para os outros. De os respeitar. De os considerarmos iguais, por muito diferentes que sejam. De partilhar e de dar. Àqueles que nos rodeiam e àqueles que estão longe, bem longe.
E talvez seja nessa luta constante entre nós e os outros que se evidencia essa capacidade de dar que têm as boas pessoas.
Mesmo não sendo perfeitas, mesmo com momentos em que se deixam dominar pelo egoísmo, as boas pessoas passam pelas nossa vidas deixando um rasto de esperança na humanidade.
Talvez seja isso que as distingue.
De que matéria são feitas as boas pessoas? Terão elas mais "razão" ou "sentimento" que as que o não são? O que as identifica? Ser boa pessoa não implica ser perfeito. Mas ser má pessoa implica de certeza ser muito imperfeito. Onde está a linha divisória? Difícil separação. As cores branco e negro misturam-se em diversas gradações de cinzentos. E depois, há as cores à mistura. Desta complexidade cromática, será que não se pode distinguir o claro do escuro?
Primariamente, move-nos o egoísmo, o impulso de satisfazer os nossos desejos e ambições. De sobressairmos, de sermos mais e melhor que os outros. Procura-se a felicidade no poder e no dinheiro, que se acha ser a fonte da satisfação dos desejos.
Alguns põe estes objectivos à frente de tudo e sobretudo à frente daqueles que se lhes deparam no caminho. Simulam. Mentem. Prejudicam. Corrompem-se.
Não, estes decerto não podem ser boas pessoas. Pelo menos enquanto pensarem que têm mais direitos que os outros. Enquanto não souberem que a felicidade maior vem de partilhar, e mais do dar que receber.
Depois, vem a nossa capacidade de olhar para os outros. De os respeitar. De os considerarmos iguais, por muito diferentes que sejam. De partilhar e de dar. Àqueles que nos rodeiam e àqueles que estão longe, bem longe.
E talvez seja nessa luta constante entre nós e os outros que se evidencia essa capacidade de dar que têm as boas pessoas.
Mesmo não sendo perfeitas, mesmo com momentos em que se deixam dominar pelo egoísmo, as boas pessoas passam pelas nossa vidas deixando um rasto de esperança na humanidade.
Talvez seja isso que as distingue.
15 de julho de 2009
Bari Improv - Kaki King
Wassily Kandinsky
14 de julho de 2009
13 de julho de 2009
A verdade do amor segundo Pepetela
"Estou a arriscar muito, portanto, tentando contar a minha estória de amor. Passamos a vida a tentar descobrir, alguns vivem mesmo só para o encontrar. Já sem falar nos escritores, que fizeram dele o tema inesgotável para poemas e romances. Uns tantos apenas no fim da vida percebem nunca com ele terem cruzado, para além dos inevitáveis equívocos. Outros, pelo contrário, descrentes de tudo desde a mais tenra idade, se surpreendem no leito de morte a sonhar com uma menina que afinal preencheu as suas vidas. Na maior parte dos casos, leva-se a verdade para a tumba. Se verdade houver.
Que há de verdade no amor?
A mesma verdade que existe na verdade. Se consome pelo uso. Ou se reforça pela ausência. Ou nem uma coisa nem outra. O mistério permanece e nos espanta sempre.
Para quê então falar no que não se pode perceber?"
Que há de verdade no amor?
A mesma verdade que existe na verdade. Se consome pelo uso. Ou se reforça pela ausência. Ou nem uma coisa nem outra. O mistério permanece e nos espanta sempre.
Para quê então falar no que não se pode perceber?"
Pepetela, em "O Planalto e a Estepe"
12 de julho de 2009
10 de julho de 2009
Despedida da flor
"- Adeus, disse à flor.
Mas ela não lhe respondeu.
-Adeus, repetiu.
A flor tossiu. Mas não era por causa da constipação.
- Fui uma tola, disse-lhe por fim. Perdoa-me e procura ser feliz.
Surpreendeu-o a ausência de censuras. Permanecia ali, todo confuso, com o globo na mão. Não compreendia aquela suavidade calma.
- É certo, amo-te, disse-lhe a flor. Por minha culpa, não soubeste de nada. Isso não tem importância alguma. Mas tu foste tão tolo como eu. Procura ser feliz... Pousa essa redoma. Já não a quero.
- Mas o vento...
- Não estou constipada como isso... O ar fresco da noite vai fazer-me bem... Sou uma flor.
- Mas as feras...
- Se tiver de suportar duas ou três lagartas, para chegar a conhecer as borboletas, não faz mal. Dizem que é tão bonito. Senão, quem me há-de visitar? Estarás longe, tu. Das feras maiores não tenho medo nenhum. Tenho as minhas garras.
E mostrava ingènuamente os quatro espinhos. Depois acrescentou:
- Não te demores mais, é irritante. Decidiste partir. Vai-te embora.
É que não queria que ele a visse chorar. Era uma flor tão orgulhosa..."
Antoine de Saint-Exupéry, em "O Principezinho" (4ª edição, tradução de Alice Gomes)
9 de julho de 2009
You Are My Sister - Antony e Boy George
Dedicado às minhas irmãs:
«You are my sister, we were born
So innocent, so full of need
There were times we were friends but times I was so cruel
Each night I'd ask for you to watch me as I sleep
I was so afraid of the night
You seemed to move through the places that I feared
You lived inside my world so softly
Protected only by the kindness of your nature
You are my sister
And I love you
May all of your dreams come true
We felt so differently then
So similar over the years
The way we laugh the way we experience pain
So many memories
But theres nothing left to gain from remembering
Faces and worlds that no one else will ever know
You are my sister
And I love you
May all of your dreams come true
I want this for you
They're gonna come true (gonna come true)» (daqui)
«You are my sister, we were born
So innocent, so full of need
There were times we were friends but times I was so cruel
Each night I'd ask for you to watch me as I sleep
I was so afraid of the night
You seemed to move through the places that I feared
You lived inside my world so softly
Protected only by the kindness of your nature
You are my sister
And I love you
May all of your dreams come true
We felt so differently then
So similar over the years
The way we laugh the way we experience pain
So many memories
But theres nothing left to gain from remembering
Faces and worlds that no one else will ever know
You are my sister
And I love you
May all of your dreams come true
I want this for you
They're gonna come true (gonna come true)» (daqui)
7 de julho de 2009
Cartas de amor ridículas - Fernando Pessoa
"Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)"
Álvaro de Campos, 21-10-1935
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