"Faz frio. Mas, depois duns dias de aguaceiros,
Vibra uma imensa claridade crua.
De cócoras, em linha os calceteiros,
Com lentidão, terrosos e grosseiros,
Calçam de lado a lado a longa rua,
Como as elevações secaram do relento,
E o descoberto Sol abafa e cria!
A frialidade exige o movimento;
E as poças de água, como um chão vidrento,
Refletem a molhada casaria.
Em pé e perna, dando aos rins que a marcha agita,
Disseminadas, gritam as peixeiras;
Luzem, aquecem na manhã bonita,
Uns barracões de gente pobrezita
E uns quintalórios velhos com parreiras.
Não se ouvem aves; nem o choro duma nora!
Tomam por outra parte os viandantes;
E o ferro e a pedra - que união sonora! -
Retinem alto pelo espaço fora,
Com choques rijos, ásperos, cantantes."
Cesário Verde, em O Livro de Cesário Verde
6 comentários:
Cesário Verde, uma grande escolha.
Pois, também gosto.
Este poema, muito urbano, muito cru, é de uma musicalidade encantadora.
Parabéns, Benjamina, por trazer Cesário :). Ainda há pouco escrevi sobre ele, a propósito dos seus 123 anos. Aqui: http://comlivros-teresa.blogspot.com/2009/08/123-anos-com-cesario-verde.html
Beijinhos
TSC
Obrigada, Teresa. Gosto de Cesário Verde desde as aulas do liceu. De vez em quando lá vou dar uma espreitada ao "O Livro de Cesário Verde".
Por muitos e bons poetas novos que apareçam, alguns mais antigos são inesquecíveis.
Beijos
Olá Benjamina,
Também adoro este autor e guardo recordações de quando lia estes poemas e fantasiava ...e sonhava.
Depois tentava escrever os meus próprios poemas, mas desfiz-me deles antes que alguém os encontrasse e os achasse ridículos.
Tenho dois recentes publicados, mas ninguém sabe quem é o autor, assim sinto-me menos mal.
Beijinhos
Ná
Olá Fernanda
Agora fiquei curiosa com os seus poemas. Quando resolver mostrar, avise.
Beijinhos
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