31 de dezembro de 2009

No crepúsculo


"As coisas nítidas confortam, e as coisas ao sol confortam. Ver passar a vida sob um dia azul compensa-me de muito. Esqueço indefinidamente, esqueço mais do que podia lembrar. O meu coração translúcido e aéreo penetra-se da suficiência das coisas, e olhar basta-me carinhosamente. Nunca eu fui outra coisa que uma visão incorpórea, despida de toda a alma salvo um vago ar que passou e que via."

Bernardo Soares / Fernando Pessoa, em "Livro do Desassossego"

30 de dezembro de 2009

Antes de findar o ano...

Antes de findar o ano, preciso de agradecer uns selos ou prémios da blogosfera, bem como uns desafios, que não quero deixar "pendurados" até 2010. Há que arrumar a casa...
Começando pelo último:

A Ana Paula Sena, no blogue Catharsis lançou-me o divertido desafio de elencar "10 livros que não mudaram a minha vida (sabe-se lá por quê)". Sem qualquer explicação e sem qualquer ordem, aqui vão 10 de entre muitos... :
  1. "1984", de Aldous Huxley
  2. "A Agustina", de Sibila Bessa-Luís
  3. "As Aventuras de João Com Medo", de José Gomes Ferreira
  4. "O Admirável Mundo Novo", de George Orwell
  5. "Os Queirós" de Eça da Maia
  6. "A Cólera em Tempos de Amor", de Gabriel Garcia Marquez
  7. "As Grandes Memórias", de José Saramago
  8. "Voltaire", de Cândido
  9. "Memória de Peixe", de António Lobo Antunes
  10. "Doutor Boris", de Jivago Pasternak
A este desafio, por ser recente, vou dar continuidade, embora em vez de desafiar 10 blogues só vá desafiar 1: vai para o Abirritante (desculpa lá :) Ferreira-Pinto, eu sei que estás de férias...)


Outro desafio, que está a ficar com barbas brancas, de tanto tempo que o deixei à espera... é o "Um pouco de mim em 5 revelações" que me foi lançado pela Teresa do BlogCronicasDaTeresa e pelo Ferreira-Pinto do Abirritante, e que consiste em completar as frases: Eu já..., Eu nunca..., Eu sei..., Eu quero..., Eu sonho...

Bom,
demorou, mas lá vai:

Eu já
tive (e tenho) a suprema e tripla felicidade de ser mãe
Eu nunca saberei uma pequena parte do que gostaria de saber
Eu sei que mais dia menos dia os meus filhos voarão do ninho
Eu quero mais é que eles sejam felizes e que dêem valor ao essencial da vida e que não é visível aos olhos
Eu sonho que cada geração seja muito melhor que a anterior para os outros e para a natureza.

Quero também aqui agradecer a Mab do blogue O Único Planeta que Temos o selo "Não faço parte do problema. Faço parte da solução!"







E à Maria Josefa Paias do blogue Restolhando e à Ana Paula Sena do blogue Catharsis o meu muito obrigada pelo selo "esse blog é VIP"



À Fernanda Ferreira do blogue Na Casa do Rau agradeço o selo "amizade".



Pelo selo "Blogueiros unidos em prol de um mundo melhor" agradeço à Fernanda Ferreira do blogue Na Casa do Rau e ao T.Mike de Vermelho Cor de Alface








Desculpem-me não dar continuidade distribuindo personalizadamente estes selos e desafios a quem merece (pois eu decididamente não mereci), mas não é uma questão de opção, é apenas falta de tempo!

Quero, no entanto, deixar aqui um agradecimento especial a todos os que me fizeram companhia visitando este blogue neste seu meio ano de existência , dando-se ao trabalho de deixar um comentário. A todos dedico o selo amizade (sim, esse aí ao lado esquerdo com as flores e borboleta) e aceitem também os outros selos ou desafios que menciono neste "post" se assim o entenderem, pois certamente os merecem muito mais que eu.

24 de dezembro de 2009

Feliz Natal mesmo para quem não sabe que é Natal


Com os desejos de um bom Natal, mesmo para quem não sabe que é Natal ou o que é o Natal, deixo um vídeo que todos conhecem, e que já tem 25 anos.



E um Postal de Natal 2009, uma versão de David Fonseca de uma música dos Wham, também muito conhecida, dos anos 80 - Last Christmas.

20 de dezembro de 2009

Dia Internacional da Solidariedade

Não podia deixar passar em branco o Dia Internacional da Solidariedade, assim como não podia deixar de partilhar este vídeo que encontrei no Youtube.



Pode contribuir com o seu "grão de areia" para ajudar a WFP a ajudar quem mais necessita na campanha Fill The Cup! ou na campanha Give the Gift of Hope

19 de dezembro de 2009

É preciso não esquecer nada

"É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.

É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.

O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.

O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.

O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence."

Cecília Meireles

10 de dezembro de 2009

Dia dos Direitos Humanos 2009

A Declaração Universal dos Direitos do Homem data de 10 de Dezembro de 1948. Este ano, a ONU deu o enfoque à discriminação com o apelo: Abrace a diversidade, acabe com a discriminação! O filme que aqui está é do ano passado e apresenta a declaração dos direitos humanos de forma abreviada, mas clara, com um apelo final à libertação de Aung San Suu Kyi, que infelizmente continua privada do seu direito humano fundamental que é a liberdade. Discriminada por opções políticas!

9 de dezembro de 2009

One World

O cantor holandês Boris vai actuar no próximo dia 12 na COP15 em Copenhaga. Esta é a sua canção "One World" que compôs especialmente para a campanha "Beat the Heat".

6 de dezembro de 2009

Era um pássaro alto

Era um pássaro alto como um mapa
e que devorava o azul
como nós devoramos o nosso amor.

Era a sombra de uma mão sozinha
num espaço impossivelmente vasto
perdido na sua própria extensão.

Era a chegada de uma muito longa viagem
diante de uma porta de sal
dentro de um pequeno diamante.

Era um arranha-céus
regressado do fundo do mar.

Era um mar em forma de serpente
dentro da sombra de um lírio.

Era a areia e o vento
como escravos
atados por dentro ao azul do luar.


Cruzeiro Seixas, em "Áfricas", 1950, Poema integrado no 1º caderno do Centro de Estudos do Surrealismo, da Fundação Cupertino de Miranda, de Vila Nova de Famalicão (daqui).
Pintura também de Cruzeiro Seixas, sem título, 1970
(daqui)

3 de dezembro de 2009

Chorando

A música "Crying" de Roy Orbison remonta a 1961. Não consegui descobrir de quando é a actuação ao vivo do primeiro vídeo. O dueto de Roy Orbison com K.D. Lang foi gravado em 1987 para o filme "Hiding Out" de Bob Giraldi. A versão em espanhol "Llorando" de Rebekah del Rio que integra o filme Mulholland Drive de David Lynch, é de 2001.





30 de novembro de 2009

Não sei o que é o tempo

Fazem hoje 74 anos que Fernando Pessoa morreu. Tão jovem era de tempo quanto eu o sou. Mas tão mais velho de saber, de querer saber, de pensar e de não agir, de sentir e não sentir. Mas mesmo tanto sabendo, não sabia o que era o tempo que sentia.


"Não sei o que é o tempo. Não sei qual a verdadeira medida que ele tem, se tem alguma. A do relógio sei que é falsa: divide o tempo espacialmente, por fora. A das emoções sei também que é falsa: divide, não o tempo, mas a sensação dele. A dos sonhos é errada; neles roçamos o tempo, uma vez prolongadamente, outra vez depressa, e o que vivemos é apressado ou lento conforme qualquer coisa do decorrer cuja natureza ignoro.
Julgo, às vezes, que tudo é falso, e que o tempo não é mais do que uma moldura para enquadrar o que lhe é estranho. Na recordação, que tenho da minha vida passada, os tempos estão dispostos em níveis e planos absurdos, sendo eu mais jovem em certo episódio dos quinze anos solenes que em outro da infância sentada entre brinquedos.
Emaranha-se-me a consciência se penso nestas coisas. Pressinto um erro em tudo isto; não sei, porém, de que lado está. É como se assistisse a uma sorte de prestidigitação, onde, por ser tal, me soubesse enganado, porém não concebesse qual a técnica, ou a mecânica, do engano.
Chegam-me, então, pensamentos absurdos, que não consigo todavia repelir como absurdos de todo. Penso se um homem que medita devagar dentro de um carro que segue depressa está indo depressa ou devagar. Penso se serão iguais as velocidades idênticas com que caem no mar o suicida e o que se desequilibrou na esplanada. Penso se são realmente sincrónicos os movimentos, que ocupam o mesmo tempo, em os quais fumo um cigarro, escrevo este trecho e penso obscuramente.
De duas rodas no mesmo eixo podemos pensar que há sempre uma que estará mais adiante, ainda que seja fracções de milímetro. Um microscópio exageraria este deslocamento até o tornar quase inacreditável, impossível se não fosse real. E por que não há o microscópio de ter razão contra a má vista? São considerações inúteis? Bem o sei. São ilusões da consideração? Concedo. Que coisa, porém, é esta que nos mede sem medida e nos mata sem ser? E é nestes momentos, em que nem sei se o tempo existe, que o sinto como uma pessoa, e tenho vontade de dormir."

Bernardo Soares / Fernando Pessoa, em "Livro do Desassossego"

28 de novembro de 2009

Cat Piano

Esta bela animação, chamada "Cat Piano" encontrei-na no blogue de Spark, Spark Übber Alles, onde podem ler mais informações sobre a mesma.

The Cat Piano from PRA on Vimeo.

25 de novembro de 2009

Em todas as ruas te encontro

Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco


Mário Cesariny (Poema e pintura)

22 de novembro de 2009

The Saints Are Coming



Os U2 e os Green Day. Nova Orleães e o Katrina em 29 de Agosto de 2005. Os Estados Unidos são o país que mais emitiu gases de efeito de estufa para a atmosfera até hoje. Será que provar o provável fruto das alterações climáticas para que tanto têm contribuído os fez acordar? Foi um drama enorme. Um drama muito mediático, a que felizmente muitas celebridades , e não só, ocorreram a ajudar. E todos aqueles dramas tão ou muito mais graves que continuam incessantemente a ocorrer por esse mundo fora, dos quais se fala 1 dia ou 2? Quem lhes acode?
(Se quiser ver o vídeo em HQ, pode ver aqui)

15 de novembro de 2009

Obama e o peso do mundo

"(...)
A máquina complexa da administração americana parece emperrada e os progressos conseguidos são poucos e lentos. Em matéria de ambiente, a quatro semanas da Cimeira de Copenhaga, as hesitações do lado americano estão a criar um grande cepticismo entre os ambientalistas. Começa a pensar-se que as negociações sobre o novo tratado deverão prolongar-se para lá daquela Conferência, durante o ano de 2010... É uma desilusão. Será um novo atraso (incompreensível), dada a reconhecida urgência de travar, quanto antes, o aquecimento global, pela diminuição dos gases com efeito de estufa. Mas, enfim, as coisas são o que são e não como os homens - e as mulheres - de boa vontade gostariam que fossem....
(...) "

Mário Soares
,
em "Obama e o peso do mundo", na Visão de 12/11/2009

Texto integral na Visão online

14 de novembro de 2009

Contra a fome

Há mais de mil milhões de pessoas com fome crónica. Em cada minuto, morrem 10 crianças com fome. Se acha isto inaceitável, junte a sua voz e assine a petição lançada pela FAO. A tempo da Cimeira de Roma sobre Segurança Alimentar, já nos próximos dias 16 a 18.




E não se esqueça de divulgar. Como diria Fernando Pessoa, "É a Hora!"

8 de novembro de 2009

Pai, tenho saudades

Pai, hoje é o dia do teu aniversário. Não te posso dar os parabéns, porque já não estás connosco. Há muito tempo que partiste e que me habituei a viver sem ti. Hoje tenho a idade que tinhas quando partiste, e o dobro da que eu tinha nesse triste data, mas nunca me deixaste verdadeiramente só.
Eras um homem bom, sonhador. Apaixonado pela vida, apaixonado pela nossa mãe, apaixonado pelos teus 6 filhos, pelas ideias que punhas em prática, embora nem sempre com sucesso. Eras amigo do amigo como nunca vi.
Pai, desculpa eu raramente visitar a tua sepultura, é que eu não gosto, pois eu sei que tu não estás lá. Visito-te sempre dentro de mim. Não tens estado por cá, mas mesmo assim, continuas a ajudar-me nos momentos mais difíceis.
Como gostaria de saber escrever um belo texto com belas palavras para te dedicar, mas não fui eu que herdei esse genes do lado da mãe. Tu também não eras um homem de palavras. Mas nunca, nunca mais esqueci aquelas que me escreveste nas fitas da universidade:
"O que mais te desejo é a felicidade e a paz de consciência"
Pai, tenho tantas saudades tuas...

6 de novembro de 2009

O mais simplesmente possível

"(...) O amor não são prazeres breves e localizados, como sustentava Colette, autora muito da minha estima, é uma vocação de sarça ardente. E estremeço de alegria quando noto nas minhas filhas as mães delas. Pareço uma caninha ao vento. Firme que nem caniço em noite de tempestade. São tão raras as mulheres que habitam a cama como um quadro habita a moldura, em que almofadas, lençóis, colchão, possuem o exacto tamanho delas e nós uma vontade humilde de ajoelhar, diante de tanta miraculosa perfeição. Sejam que horas forem é sempre

- Bom dia

antes da linguagem dos arcanjos. "


António Lobo Antunes, em "Devemos fazer tudo o mais simplesmente possível mas não mais simplesmente do que isso", na Visão de 5/11/2009

Texto integral na Visão, de ontem, online

3 de novembro de 2009

Nevoeiro

"Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
define com perfil e ser
este fulgor baço da terra
que é Portugal a entristecer –
brilho sem luz e sem arder,
como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quere.
Ninguém conhece que alma tem,
nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ância distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...


É a Hora!"

Fernando Pessoa, em "Mensagem"
(Foto da net, retirada de Talefe)

2 de novembro de 2009

I Gotta Feeling - come to UQAM!



Mais uma vez o "I Gotta Feeling" dos Black Eyed Peas a dar origem a um alegre vídeo. Desta vez, na semana de integração, 172 estudantes de Comunicação da Universidade do Quebeque em Montreal, gravaram este vídeo "publicitário" à sua Universidade - LIPDUB - no passado dia 10 de Setembro, em 2h15min.

31 de outubro de 2009

29 de outubro de 2009

Dias há

"Dias há,
em que o teu sorriso
é uma ilha perdida dentro de mim
e o teu nome
o vento que muda as estrelas
para o dorso das andorinhas.
Dias há,
em que procuro os teus olhos
e silenciosamente te digo "meu amor",
como se eles fossem peixes
e as palavras animais estranhos
capazes de turvar a paz
das grandes profundidades."

Isabel Meyrelles

26 de outubro de 2009

Estética do Artifício

"A vida prejudica a expressão da vida. Se eu tivesse um grande amor nunca o poderia contar. Eu próprio não sei se este eu, que vos exponho, por estas coleantes páginas fora, realmente existe ou é apenas um conceito estético e falso que fiz de mim próprio. Sim, é assim. Vivo-me esteticamente em outro. Esculpi a minha vida como a uma estátua de matéria alheia ao meu ser. Às vezes não me reconheço, tão exterior me pus a mim, e tão de modo puramente artístico empreguei a minha consciência de mim próprio. Quem sou por detrás desta irrealidade? Não sei. Devo ser alguém. E se não busco viver, agir, sentir, é - crede-me bem - para não perturbar as linhas feitas da minha personalidade suposta. Quero ser tal qual quis ser e não sou. Se eu cedesse destruir-me-ia. Quero ser uma obra de arte, da alma pelo menos, já que do corpo não posso ser. Por isso me esculpi em calma e alheamento e me pus em estufa, longe dos ares frescos e das luzes francas - onde a minha artificialidade, flor absurda, floresça em afastada beleza.
(...)"

Bernardo Soares, em "O Livro do Desassossego"

Imagem: Quadro "Fernando Pessoa", de João Ricardo, óleo s/cartão, 1998

21 de outubro de 2009

I Gotta Feeling - surprise, Oprah!



Surpresa que os Black Eyed Peas fizeram a Oprah em Chicago, Michigan Avenue, no passado dia 8 de Setembro, na festa de abertura da 24ª temporada do seu programa. Impressionante como mobilizaram 20 mil pessoas. Treinaram 800 pessoas, que por sua vez treinaram as 20 mil. Vale a pena ver, e pode ser em ecrã total, a qualidade está razoável. ([Dipdive] Black Eyed Peas Home)

19 de outubro de 2009

Não me peçam razões

"Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.

Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.

Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir."

José Saramago, em "Os Poemas Possíveis", 1966

16 de outubro de 2009

Chicken a la Carte

Hoje é o Dia Mundial da Alimentação. São mais de mil milhões pessoas no mundo com fome. Segundo a FAO, não há falta de alimentos no mundo, estão é mal distribuídos. A curta-metragem que aqui está, "Chicken a la Carte" é de Ferdinand Dimadura, 2005. Para ver e reflectir.


15 de outubro de 2009

Alterações Climáticas (Blog Action Day )

Hoje é o dia "Blog Action Day", em que é solicitado aos "blogueiros" de todo o mundo a dedicarem-se a um mesmo tema. Este ano de 2009, o tema são as Alterações Climáticas.

Porque as alterações climáticas são uma realidade já incontornável. Porque imensos cientistas já chegaram à conclusão que uma boa quota parte da responsabilidade pelas alterações climáticas é devido à acção humana, que desde a revolução industrial tem aumentado progressivamente as emissões de gases com efeito de estufa para a atmosfera. Porque a sua concentração desses gases chegou até níveis demasiados perigosos para o clima. Porque em Dezembro próximo representantes da maioria dos países se vão reunir em Copenhaga para decidir sobre o sucessor do tratado de Quioto.

Porque é preciso que todos juntos procuremos fazer algo para minorar o sério problema das alterações climáticas.

E essa acção pode e deve ter duas vertentes:
- Nas nossas acções do dia-a-dia, uma atitude responsável de forma a diminuirmos o consumo de energia, água e recursos, o desperdício, o lixo produzido.
- Manifestarmo-nos publicamente de forma a pressionar os líderes mundiais a aprovarem um futuro tratado de Copenhaga justo, ambicioso e vinculativo.

Façamos a nossa parte: contribuamos para um planeta mais limpo e justo. Diminuamos progressivamente a nossa pegada ecológica de forma a que o planeta chegue para todos. Tomemos uma posição e juntemo-nos a uma acção local no dia 24 de Outubro, Dia da Acção Climática.

10 de outubro de 2009

8 de outubro de 2009

Corrupção

Encontrei este texto de Lena Casas Novas no seu blogue Portal Lena Casas Novas, com o título "brasileiros e brasileiras!". Achei-o tão deliciosamente mordaz, que não resisti a armazená-lo aqui:

"Dizem que mulher de bigode nem o diabo pode... Ando desconfiada de um cabra-macho que veio boiando desde a nascente no Maranhão até um afluente em Brasília – seu habitat. É uma espécie de marimbondo com bigode, que cospe fogo, dá até medo, ninguém pode com ele, seria então uma fêmea? Neste pântano, onde desagua todos os detritos de lavagem de dinheiro, lavagem cerebral e outras sujeiras, além deste inseto, vivem espécies de cobras venenosas, papagaios, sanguessugas e moscas brancas. Hoje, com o fenômeno desenvolvimento sustentável, eu fico preocupada com as gerações futuras, pois esses seres vivos não entrarão em extinção – um paradoxo! Mas, já que não se pode tocar no poder da natureza... seria politicamente correto abrir o local para visitação, onde todas as pessoas teriam acesso ao comportamento dos seres que se perpetuam na biodiversidade política. "

6 de outubro de 2009

Pefect Day

A canção "Perfect Day" original, de Lou Reed, data de 1972. Esta versão de 1997 foi lançada como acção de ajuda humanitária pela BBC - Children in Need.

2 de outubro de 2009

O koala e o bombeiro

Hoje recebi a imagem que aqui está, num e-mail com o título "Não basta apagar o fogo", e com um texto referindo tratar-se de um incêndio na Austrália.

Pesquisei no Youtube, encontrei lá o filme, onde está desde Fevereiro.

O bombeiro chama-se David Tree. A qualidade do vídeo é fraca. Mas a atitude é bonita.



30 de setembro de 2009

Imaginemos um cenário

Conhecem a bússola eleitoral que esteve disponível na internet para as legislativas 2009? Se não, dêem lá um saltinho, respondam às perguntas e vejam o resultado. Depois, façam comigo um exercício de imaginação.

Assim:

Imaginemos a bússola eleitoral.
Imaginemos que que a bússola eleitoral é validada por todos os partidos políticos e que as perguntas que a compõe traduzem efectivamente as principais linhas de orientação dos programas dos partidos políticos.
Imaginemos que as perguntas relativas à confiança que temos nos presidentes dos partidos e nos próprios partidos políticos tinha alguma ponderação no cômputo geral, embora relativamente baixa, digamos 10 a 15 %, para cada (nesta bússola 2009 não interferem na escolha, ou seja é zero), porque a confiança nas pessoas e partidos também deve valer alguma coisa.
Imaginemos que o voto é electrónico e consiste na resposta às perguntas da bússola eleitoral.
Imaginemos que a bússola calcula e converte todas as respostas dos eleitores, respondendo qual o partido cujas propostas mais se aproximam da vontade dos portugueses, e que esse será o partido que vai formar governo.
Imaginemos também que o número de deputados na assembleia da república para cada partido seria também calculado por uma fórmula da bússola, efectuada a nível distrital ou regional.

Agora, imaginemos o mais difícil:

O partido que forma governo, cumpre mesmo o seu programa eleitoral, salvo se, em alguma das questões que outro partido tenha tido maior votação, entender que afinal pode seguir essa via sem prejudicar o restante programa. Se se desviar do programa sem ser por este motivo ou outro de maior relevância, o governo deve ser demitido pelo presidente da república.

A assembleia da república é composta por metade dos deputados em relação à actualidade, mas todos esses deputados efectivamente trabalham e cumprem o seu papel (que não é só votar nas propostas), pois se não o fizerem, são despedidos e substituídos pelo seguinte da lista.

É um cenário interessante, não é?

29 de setembro de 2009

Cristalizações


"Faz frio. Mas, depois duns dias de aguaceiros,
Vibra uma imensa claridade crua.
De cócoras, em linha os calceteiros,
Com lentidão, terrosos e grosseiros,
Calçam de lado a lado a longa rua,

Como as elevações secaram do relento,
E o descoberto Sol abafa e cria!
A frialidade exige o movimento;
E as poças de água, como um chão vidrento,
Refletem a molhada casaria.

Em pé e perna, dando aos rins que a marcha agita,
Disseminadas, gritam as peixeiras;
Luzem, aquecem na manhã bonita,
Uns barracões de gente pobrezita
E uns quintalórios velhos com parreiras.

Não se ouvem aves; nem o choro duma nora!
Tomam por outra parte os viandantes;
E o ferro e a pedra - que união sonora! -
Retinem alto pelo espaço fora,
Com choques rijos, ásperos, cantantes."


Cesário Verde, em O Livro de Cesário Verde

26 de setembro de 2009

Campanha contra a fome - "A billion for a billion"

Desculpem insistir, mas precisam da vossa ajuda.
Morrem 10 crianças por minuto por falta de alimentos.
Mais de mil milhões ("1 billion") de pessoas estão a sofrer com a fome.
Nunca este número foi tão elevado.
Os donativos para ajudar atingiram o mínimo dos últimos 20 anos.

Façam um donativo a WFP.
E por favor, divulguem esta campanha.
Usem as ferramentas desta "grande rede", blogues, e-mails, facebook, twitter, hi5, e outras redes.
Vamos ser muitos a ajudar muitos. Vamos fazer a diferença!

(Nota: este post é igual e veio de "Sustentabilidade É Acção" com a devida autorização)

25 de setembro de 2009

Voto útil?

A Isabela Figueiredo, de cujo "Novo Mundo" não perco uma pitada, e que tem o dom de me pôr a pensar (não que eu não pensasse antes, entendem-me, mas às vezes distraio-me...) mais uma vez me pôs a reflectir com o seu "O inútil voto útil".

Confesso que o voto útil já me deixou tentada. Mas o pior, é que depois de reflectir, acabei por discordar um pouco da Isabela - é que me parece que o "voto útil" não é inútil, mas antes, pernicioso. O voto útil pura e simplesmente deturpa completamente aquilo que deveria ser a democracia.

Como seria o resultado das eleições se ninguém votasse pela "utilidade", mas se votasse antes de acordo com aquilo que sinceramente mais se coaduna com as suas convicções?

Não sei como seria o resultado, mas uma certeza se apodera de mim: seria bem diferente do que tem sido e do que vai ser.

Não, eu não vou votar no "voto útil" eu vou votar em consciência. Pode ser que assim tenha mais utilidade para a democracia.

(imagem da net, a que tirei a cor para não ter conotações políticas)

22 de setembro de 2009

Gandhi sabia!

Algumas frases de Gandhi que merecem a nossa sincera reflexão:


1 - Há riqueza bastante no mundo para as necessidades do homem, mas não para a sua ambição.

2 - Um homem não pode fazer o certo numa área da vida, enquanto está ocupado em fazer o errado em outra. A vida é um todo indivisível.

3 - A lei de ouro do comportamento é a tolerância mútua, já que nunca pensaremos todos da mesma maneira, já que nunca veremos senão uma parte da verdade e sob ângulos diversos.

4 - Olho por olho, e o mundo acabará cego.

5 - Se queremos progredir, não devemos repetir a história, mas fazer uma história nova.

6 - Temos de nos tornar na mudança que queremos ver.


20 de setembro de 2009

17 de setembro de 2009

Bosques, blogues, vícios, prémios e malmequeres

Era (é) uma vez uma gentil Fada do Bosque, que trabalha numa Oficina do Bosque, onde, com a magia da sua varinha de condão, com trabalho árduo e com uma grande dose de bom gosto e imaginação, converte móveis e peças antigas, velhas e estragadas, em verdadeiras obras de arte, com a vantagem de serem úteis e de permitirem reduzir o abate de árvores.

Essa Fada é uma fada boa e gosta muito de dar coisas às pessoas de quem gosta. Mas como não é rica, resolveu dar prémios em flores.

E assim recebi o prémio "O seu blog é viciante" das mãos desta fada, que pegou na varinha de condão e o transformou, como é seu costume, de um esqueleto a apodrecer, num belo ramo de malmequeres.

Obrigada querida Fada, pelo prémio, que me faz ficar vaidosa deste armazém, apesar de eu saber que é imerecido e que foi dado devido à tua bondade e amizade.

Bom, mas este prémio traz consigo o encargo de o distribuir por outros 10 blogues que considere viciantes. Ora aqui está uma tarefa difícil, pois estou mesmo em dificuldades para tomar uma decisão (deve ser da fase da lua...).

Por isso, tomo uma espécie de não decisão, e dedico este prémio a todos os blogues que estão naquela lista ali ao lado direito, onde diz "outros armazéns", mas com entrega especial de malmequeres para aqueles que visitam este armazém.

14 de setembro de 2009

Be yourself no matter what they say

Gosto deste vídeo. Gosto desta música. Gosto da mensagem. Gostaria de ir a Nova Iorque.
A música e o vídeo são de 1987. O "Englishman in New York" é Quentin Crisp.

11 de setembro de 2009

Perdi Meus Fantásticos Castelos

"Perdi meus fantásticos castelos
Como névoa distante que se esfuma...
Quis vencer, quis lutar, quis defendê-los:
Quebrei as minhas lanças uma a uma!

Perdi minhas galeras entre os gelos
Que se afundaram sobre um mar de bruma...
- Tantos escolhos! Quem podia vê-los? -
Deitei-me ao mar e não salvei nenhuma!

Perdi a minha taça, o meu anel,
A minha cota de aço, o meu corcel,
Perdi meu elmo de ouro e pedrarias...

Sobem-me aos lábios súplicas estranhas...
Sobre o meu coração pesam montanhas...
Olho assombrada as minhas mãos vazias... "

Florbela Espanca, em "A Mensageira das Violetas"

8 de setembro de 2009

Zequinha

Este cão chama-se Zequinha e foi abandonado num convento. Vive e canta com as freiras. Não será mais humano que muitos de nós?



5 de setembro de 2009

Eu julgo, tu julgas, nós julgamos

Talvez por nos termos habituado a uma justiça inoperante, acompanhada de uma polícia ineficaz, temos uma tendência irresistível para julgar os outros.
Quando a poderosa comunicação social decide (sim, ela é que decide com o que nos devemos entreter) dar destaque a um determinado acontecimento negativo, seja crime ou não, eis que tanta gente começa a julgar. Quer dizer, não é bem só julgar: ele é advogados de defesa, é acusadores, é juízes, é um inteiro sistema judicial instituído logo no momento, que percorre num ápice o país de lés-a-lés. Arranjam-se suspeitos, acusados, réus, vítimas, testemunhas e bodes expiatórios enquanto o diabo esfrega um olho.
Entretanto, os que devem de direito investigar, defender, acusar, e julgar, continuam no seu ram-ram, mais baralhados e confusos. E alguns até gostam de entrar no jogo e dar palpites.
Com estes entretimentos todos, a verdade, das duas uma: ou se enterra num buraco tão profundo que dificilmente será descoberta, ou se desvanece em fumo para todo o sempre.

Será por isto que se diz deste país "de brandos costumes"?
(imagem da net)

4 de setembro de 2009

Vincent

Vincent - poema e a primeira animação em stop-motion de Tim Burton, com narração de Vincent Price. O poder da imaginação.

1 de setembro de 2009

Influências

Curta metragem de Sofia Alves, Ana Salgado e António Fernandes, que ficou em segundo lugar no concurso Videorun! inserido no Festival de Curtas Metragens de Vila do Conde 2009 (decorreu de 4 a 12 de Julho). No Videorun, os candidatos têm 48 horas para fazer um filme de 3 minutos, a partir do "lançamento" do tema, que foi, neste ano, "O FUTURO" - 24 horas para fazerem o argumento e filmarem e 24 horas para editarem e montarem.

30 de agosto de 2009

União de facto

Um extracto do artigo "Casados à força" de Miguel Sousa Tavares, no semanário Expresso de ontem, sobre o veto do Presidente da República ao diploma sobre as Uniões de Facto:

".... A imensa maioria dos casais que vivem em união de facto vivem assim exactamente por quererem uma relação onde à partida ambos sabem que não têm a esperar direito nenhuma obrigação ou direitos decorrentes da lei. É assim que escolheram viver e é um abuso que o Estado venha depois dar-lhes direitos que não reclamaram e que ostensivamente recusaram. Tanto mais, que ao conceder-lhes direitos iguais aos dos casados, não lhes impunha idênticos deveres - o que significava que os casados passariam a ter, face à lei, um estatuto de segunda categoria. ..."
Bem visto!

29 de agosto de 2009

Adagio

Foi terrível resistir à tentação de colocar aqui o filme disponível no youtube, pois não gosto de copiar. Difícil, mas resisti (pelo menos por agora).
Mas porque se trata de algo imperdível, fica aqui o link para o jovem e lindo blogue de Teresa Sá Couto, Adagio. Não podem perder esta animação de Garri Bardin, é linda, profunda, bem feita, e infelizmente retrata algo real que todos conhecemos. E o Adagio de Albinoni!
Vejam aqui

28 de agosto de 2009

Amor é bicho instruído

"Amor é bicho instruído
Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que escorre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã."

Carlos Drummond de Andrade

25 de agosto de 2009

23 de agosto de 2009

Carta do desassossego

"Lisboa, 14 de Março de 1916
Meu querido Sá-Carneiro:

Escrevo-lhe hoje por uma necessidade sentimental - uma ânsia aflita de falar consigo. Como de aqui se depreende, eu nada tenho a dizer-lhe. Só isto - que estou hoje no fundo de uma depressão sem fundo. O absurdo da frase falará por mim.

Estou num daqueles dias em que nunca tive futuro. Há só um presente imóvel com um muro de angústia em torno. A margem de lá do rio nunca, enquanto é a de lá, é a de cá; e é esta a razão íntima de todo o meu sofrimento. Há barcos para muitos portos, mas nenhum para a vida não doer, nem há desembarque onde se esqueça. Tudo isto aconteceu há muito tempo, mas a minha mágoa é mais antiga.

Em dias da alma como hoje eu sinto bem, em toda a minha consciência do meu corpo, que sou a criança triste em quem a vida bateu. Puseram-me a um canto de onde se ouve brincar. Sinto nas mãos o brinquedo partido que me deram por uma ironia de lata. Hoje, dia catorze de Marco, às nove horas e dez da noite, a minha vida sabe a valer isto.

No jardim que entrevejo pelas janela caladas do meu sequestro, atiraram com todos os balouços para cima dos ramos de onde pendem; estão enrolados muito alto; e assim nem a ideia de mim fugido pode, na minha imaginação, ter balouços para esquecer a hora.

Pouco mais ou menos isto, mas sem estilo, é o meu estado de alma neste momento. Como à veladora do "Marinheiro" ardem-me os olhos, de ter pensado em chorar. Dói-me a vida aos poucos, a goles, por interstícios. Tudo isto está impresso em tipo muito pequeno num livro com a brochura a descoser-se.

Se eu não estivesse escrevendo a você, teria que lhe jurar que esta carta é sincera, e que as coisas de nexo histérico que aí vão saíram espontâneas do que me sinto. Mas você sentirá bem que esta tragédia irrepresentável é de uma realidade de cabide ou de chávena - cheia de aqui e de agora, e passando-se na minha alma como o verde nas folhas.

Foi por isto que o Príncipe não reinou. Esta frase é inteiramente absurda. Mas neste momento sinto que as frases absurdas dão uma grande vontade de chorar.

Pode ser que, se não deitar hoje esta carta no correio amanhã, relendo-a, me demore a copiá-la à máquina, para inserir frases e esgares dela no LIVRO DO DESASSOSSEGO. Mas isso nada roubará à sinceridade com que a escrevo, nem à dolorosa inevitabilidade com que a sinto.

As últimas notícias são estas. Há também o estado de guerra com a Alemanha, mas já antes disso a dor fazia sofrer. Do outro lado da Vida, isto deve ser a legenda duma caricatura casual.

Isto não é bem a loucura, mas a loucura deve dar um abandono ao com que se sofre, um gozo astucioso dos solavancos da alma, não muito diferentes destes.

De que cor será sentir?

Milhares de abraços do seu, sempre muito seu,

FERNANDO PESSOA

P.S. - Escrevi esta carta de um jacto. Relendo-a, vejo que, decididamente, a copiarei amanhã, antes de lha mandar. Poucas vezes tenho tão completamente escrito o meu psiquismo, com todas as suas atitudes sentimentais e intelectuais, com toda a sua histero-neurastenia fundamental, com todas aquelas intersecções e esquinas na consciência de si-próprio que dele são tão características...

Você acha-me razão, não é verdade?"

Fernando Pessoa, em Mário de Sá-Carneiro - Cartas Escolhidas

20 de agosto de 2009

Mankind Is No Island

Esta fabulosa curta metragem de Jason van Genderen, "Mankind Is No Island", que ganhou o prémio de curtas metragens Tropfest NY 2008, foi filmada com um telemóvel e teve um orçamento de 57 dólares.
A magia da criatividade e da sensibilidade juntas.

19 de agosto de 2009

Gente do bem

A enorme admiração que tenho pelas pessoas que se dedicam aos outros, e em especial àquelas que o fazem a troco de nada ou de muito pouco (não que um sorriso seja muito pouco, mas entendem-me), obriga-me a deixar aqui uma pequena homenagem neste primeiro Dia Mundial da Ajuda Humanitária. Não podia deixar passar em branco.

17 de agosto de 2009

Esquilices londrinas

Das poucas vezes que vi esquilos em Portugal, foi num relance, de longe, com os bichinhos a fugir a sete pés de tudo que era gente. Ah, mas em Londres, a história parece ser outra. Num dos grandes parques, o esquilo olhou para nós, seguiu-nos, pôs-se em pé a pedir... e quando a minha irmã se aninhou, abriu a carteira e ele (aliás, ela), viu um pacote de bolachas lá, quase entrou pela carteira dentro, agarrado ao pacote... só visto. E o pombo, coitado, cheio de inveja.

15 de agosto de 2009

Fernando Pessoa e a beleza











"O binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo.
O que há é pouca gente para dar por isso.


óóóó - óóóóóóóóó - óóóóóóóóóóóóóóó


(O vento lá fora)."



Álvaro de Campos, 21-10-1935

9 de agosto de 2009

Homem T

Continua até 31 de Agosto, na Avenida dos Aliados do Porto, a exposição Homem T, projecto criado pelo Espaço t. Vale a pena ver. Imagens são melhores que palavras.





8 de agosto de 2009

Raul Solnado

Raul Solnado deixou-nos hoje. A essa grande figura do teatro e da comédia portugueses, deixo aqui uma pequena homenagem. Gostaria de colocar aqui "A Guerra de 1908" com a gravação ao vivo, mas só encontrei com a voz. Muito me ri com essa cena, há quantos anos...



6 de agosto de 2009

Um lugar

Aquele lugar, aquele cheiro a terra misturada com vegetação, os pinheiros, os eucaliptos das bouças a sul, o ar transparente, e o carvalho, o carvalho em frente à casa; sinal de localização para quem não conhecia o caminho, o enorme carvalho via-se de longe. Foi plantado por meu avô no dia em que meu pai nasceu. Quando o meu pai morreu, o carvalho tornou-se para mim o símbolo vivo do meu pai. A casa pertence a uma pequena quinta, que antes de ser nossa, foi do meu pai, do meu avô, do meu bisavô, etc.. A quinta é fértil e bonita, cheia de sol e de verde, atravessada por uma ribeira e situada numa zona de vale. Desvarios foram aquelas reformas agrícolas que obrigaram a arrancar as videiras das ramadas sobre os caminhos que tornavam os seus percursos em verdadeiros momentos de prazer.

A casa, essa, feita com paredes mestras de pedra, e ainda com algumas paredes interiores de estuque, tem uma planta em forma algo invulgar em forma de P. Não é muito confortável nem funcional. Não foi feita de uma só vez, mas foi crescendo com sucessivos aumentos, à medida das necessidades das grandes famílias antigas. É uma casa rural, com algumas partes típicas, como o sequeiro, as adegas, o lagar, as eiras, e até um pombal; outras partes são o resultado de modificações posteriores, adaptando a casa a novas circunstâncias. Com tudo isto, a casa conta uma história de uma família ao longo de gerações, é só perceber a linguagem, para o que basta conhecer o modo de vida rural minhoto deste século em vias de extinção.

Algo me liga lá, seja lá o que for; sejam os tempos que lá passei, correndo pelos campos ou esfolando os joelhos de triciclo e bicicleta com os tombos naquela solarenga eira; os jogos de escondidas e os jogos de cartas com os amigos em que o meu pai também participava; ou os fins de tarde em amena cavaqueira passados no eirado, pequena eira junto ao lagar. O eirado era um dos meus lugares preferidos: rodeado de casa por todos os lados, coberto com ramada de uvas americanas, para ele se viravam as portas das frescas adegas e das outrora cortes dos bovinos residentes no rés-do-chão. No fundo, o que me ficou mais marcado foi o espaço exterior. Talvez aquele lugar seja a representação presente de outra época, uma espécie de dimensão temporal do espaço.

Não foi projectada por arquitectos. Não foi planeada com estudos teóricos. Mas ninguém lhe tira as tardes de Verão em que se faziam as malhadas ou as desfolhadas, eram tempos de trabalho duro e saudável convívio; e lembro-me vagamente de passar a tarde a fazer pequenos ramos de flores para, ao jantar, distribuir aos trabalhadores vizinhos que se juntavam e ajudavam, muitas vezes pelo sentido de comunidade, cuja paga talvez fosse apenas aquele alegre jantar.

São as memórias e sensações que tenho e que tive ligadas a um lugar, a um bocado de espaço que vivi e que vivo. E tal como uma árvore, a ele me sinto agarrada com fortes raízes invisíveis.
Talvez um dia seja possível recuperar esse canto perdido no Minho, bem perto de nós, sem ter de desenraizar as árvores.

Junho de 1999